Em todos os ensinos de Jesus quer seja nos seus sermões ou diálogos, podemos sempre observar uma ou duas frases que são a chave do ensinamento que Ele deseja deixar. E nesta passagem podemos destacar duas frases:
Para entendermos melhor o porquê desta frase devemos primeiramente saber o que estava acontecendo.
Jesus passava pela alfândega quando encontrou um homem e o chamou para seguí-lo, este homem era Mateus, um cobrador de impostos, um homem que tinha um emprego mau visto por todos, já que tirava o dinheiro do povo. Era comum os cobradores de impostos serem homens que enriqueciam com o dinheiro que roubavam a mais do povo. Já pensou, que tipo de sentimento você nutriria por um homem que todo o mês lhe roubasse parte de seu salário, o que você acha que ele mereceria? Uma prisão com certeza.
Mas mesmo sabendo disso, não foi assim que Jesus olhou para ele, não foi com um olhar de desprezo, condenação ou vingança, mas o olhou com um olhar de misericórdia, pois Jesus viu além de um ladrão, Ele viu um pecador necessitado da Sua misericórdia. Talvez Mateus passasse o dia inteiro sentado recebendo o dinheiro e sendo alvo de piadas e maledicências, mas naquele instante o que ele ouviu não foi algo que o agrediu ou feriu, mas foi a doce voz de Cristo o convidando a seguí-lo. Foi uma voz mais profunda, além dos seus ouvidos, foi uma voz que atingiu com ternura o íntimo de seu coração, o próprio Filho de Deus naquele momento o chamou a salvação. De imediato Mateus não pode resistir e atendendo aquele gracioso chamado se levantou e seguiu-O, deixou para trás a coletoria que por tanto tempo o marcou como um ladrão, e passou a viver uma nova vida ao lado de Cristo.
Abriu sua casa para que Jesus pudesse fazer uma refeição, logo a casa se encheu de pessoas, não foram os mais bem quistos da sociedade que foram lá, mas outros cobradores de impostos e pecadores que se sentaram a mesa com Mateus, Jesus e seus discípulos. Mateus não pode conter-se e com o mesmo olhar de misericórdia que havia recebido, olhou para seus amigos, apresentou-os a Jesus, pois sabia que o mesmo Cristo que o salvara poderia mudar a vida de seus amigos também, não importava o quanto tinham roubado, ou quão grande pecadores eram, ou ainda como a sociedade os olhava, o que importava era como Jesus os olhava e como poderia transformá-los.
Mas ali também havia pessoas que não aceitavam que tais pecadores fossem tratados com tamanho amor, estes questionaram os discípulos perguntando o porquê de Jesus se relacionar com homens tão desprezíveis. Estes inquiridores eram chamados de fariseus, os religiosos da época, homens que conheciam a Palavra de Deus, que ofereciam sacrifícios, que jejuavam e diziam praticar a verdadeira religião.
Daí o motivo da frase de Jesus, o que ele queria não eram os seus sacrifícios, mas sim que agissem com misericórdia para com aqueles pecadores, pois Ele foi enviado como médico para a cura dos doentes, diagnosticá-los como pecadores e receitá-los o remédio do arrependimento, que os salvaria de todo o pecado.
A segunda frase que queria destacar é a seguinte:
2º. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.
Ainda na casa de Mateus chegaram aos pés de Jesus os discípulos de João Batista, questionando o porquê de seus discípulos não cumprirem com a tradição dos fariseus de jejuarem muitas vezes, como eles também faziam.
É importante dizer que em momento algum Jesus condenou o jejum, pois Ele mesmo no capítulo 4 jejuou 40 dias. O que Jesus vai criticar neste texto é a pratica vazia da religião, é quando nossas praticas religiosas se tornam tão mecânicas que ficam presas a um sistema religioso ineficiente e incapaz de demonstrar a riqueza da misericórdia de Deus e sua salvação.
Era comum aos fariseus estudar, dar esmolas, guardar o sábado e jejuar 3 vezes na semana, mas também desprezavam os outros, como Jesus nos conta na parábola do fariseu e do cobrador de impostos (Lucas 18:09-14). Os “religiosos” haviam feito da prática do jejum algo totalmente superficial, uma prática meramente exterior para que os homens os julgassem como homens piedosos, por isso Ele diz que enquanto estava com seus discípulos os mesmos não tinham motivo para jejuar, uma vez que o jejum era um sinal de tristeza e contrição, e eles deveriam andar alegres por Jesus estar ainda no meio deles, mas que viria o dia em que ele voltaria ao céu, então não apenas os seus discípulos, mas todos nós jejuaríamos anelando estar com Ele. Era essa religiosidade vazia, sem sentido e sem misericórdia que Jesus tanta vezes criticou.
Quando Ele fala de vinho novo e odres velhos, está se referindo ao vinho como figura de sua mensagem (evangelho), o vinho novo da alegria, o sangue da nova aliança que é capaz de trazer alegria de salvação aos perdidos e desprezados, já que é o seu sangue que nos reconcilia com Deus, e não o vinho velho, o sangue de animais, os sacrifícios não mais necessários, a lei incapaz de salvar, a religiosidade mecânica sem amor a Deus e ao próximo, que infla o peito de seus praticantes como se fossem os exclusivos de Deus, que deixa os ladrões, prostitutas, drogados e todos outros pecadores tão mal vistos pela sociedade, fora da igreja que pensam serem donos. Por isso Jesus diz que sua mensagem não cabe neste odre (embalagem) velho, mas deve ser guardado no odre novo de uma vida de piedade e misericórdia.
Só podemos dizer que estamos pregando o vinho novo (evangelho) quando temos misericórdia pelos pecadores e os chamamos sem preconceito ao arrependimento que um dia recebemos, assim como Mateus fez com seus amigos.
Claudio Braga
Sola Gratia
29.11.2010
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