A Igreja da Idade Média
Introdução
Começamos o estudo do nosso trimestre analisando a situação da Igreja Católica Apostólica Romana no final da Idade Média.
Esse
período, chamado “Baixa Idade Media”, Séculos 14 e 15, foi marcado pelo
desanimo intelectual, imoralidade e corrupção da Igreja Romana. Se não
fosse por estes dois séculos, hoje a Idade Media não seria lembrada de
modo tão negativo. Antes destes séculos, houve muita produção escruta,
com o pensamento de Agostinho e Tomas de Aquino; o Cristianismo
espalhou-se por todo o mundo e surgiram as Universidades. Mas estes dois
séculos que vieram antes da Reforma protestante de Martinho Lutero e
João Calvino foram marcados pelo erro. Neste período o povo vivia com
medo da Igreja, com fome e explorados economicamente pelos impostos
papais. Além disso, o povo não conhecia a Deus, pois não tinha qualquer
acesso à sua Palavra. A Bíblia era um livro fechado e os sacerdotes se
julgavam donos da revelação de Deus.
Na
idade Média o objetivo da Igreja era estabelecer um império de
proporções mundiais, tendo a tradição oral e a palavra do papa como
únicas autoridades sobre as áreas da vida humana. Um só idioma, deveria
ser falado, de forma que a liturgia do culto fosse idêntica em todas as
igrejas. O historiador David Schaff diz que, nesta época, exaltava-se o
sacerdócio e desprezava-se os direitos dos homens comuns. Enquanto o
papa possuía poderes de Imperador, seus sacerdotes e outros clérigos
recebiam o status de reis e nobres. Qualquer reação que ameaçasse
diminuir a autoridade da Igreja era duramente combatida com excomunhão e
censuras[1].
Vejamos quais os principais elementos de total desvio da Palavra de Deus neste período.
1 - A Falsa Autoridade da Igreja
A
supremacia papal dizia que o pontífice romano, o papa, era a
representação de Deus na terra ou o vigário de Cristo (aquele que assume
o lugar de Cristo). Sendo assim, as decisões papais feitas através de
decretos ou bulas tinham autoridade maior do que a Escritura.
Salvação
naquela época era o mesmo que obediência ao papa. Sendo ele o soberano
representante de Deus, não só a Igreja estava sob seu comando, mas
também toda a lei civil. O papa Gregório VII defendeu a idéia de que o
papa “é o único que deveria ter os pés beijados pelos príncipes”, depor
imperadores e absolver ou não os súditos dos impérios de suas obrigações
feudais [2]. O chefe da Igreja comandava também a vida comum e a
propriedade dos cidadãos de todo o império [3]. A bula papal, anunciada
pelo para Bonifácio VII em 1302, chamada de “Unam Sanctam” dizia que,
assim “como houve um única arca, guiada por apenas um timoneiro, assim
também havia uma única santa, católica e apostólica igreja, presidida
por um supremo poder espiritual, o papa, que podia ser julgado apenas
por Deus, não pelos homens. Desta forma ele concluiu: “Declararmos,
estabelecemos, definimos e pronunciamos que, para a salvação, é
necessário que toda criatura humana esteja sujeita ao Pontífice Romana
[4]”.
O
sistema sacramental era outra grande estratégia da Igreja daquele
tempo. Através desse sistema, os sacerdotes recebiam poderes incríveis
como, por exemplo, perdoar os pecados do povo e também de conceder ou
retirar a vida eterna.
Dessa
forma, a Igreja Católica Romana caiu em grande erro. Quando alguém se
afasta da Bíblia, pensa que é Deus. Autoridade da Igreja é Jesus Cristo e
não há quem possa substituí-lo. Ele, e só ele, é o cabeça da igreja (Ef
1.22; Ef 5.23).
2 - O Falso Poder da Igreja
O
papa Inocêncio III organizou a força policial da Igreja. Esta foi a
mais terrível estratégia da Igreja. Qualquer divergência contra ela era
tratada como se fosse crime, cuja punição não estava reservada apenas
neste mundo, com prisões, tortura e morte, mas também no mundo vindouro,
onde o insubmisso queimaria no inferno. Esta policia chamava-se
Inquisição. O papa poderia também fazer uso do interdito, uma espécie de
intervenção da igreja nos reinados do Império, quando o chefe da Igreja
assumia o lugar do rei, como aconteceu com o Rei John da Inglaterra em
1213.
Foram
muitos os abusos e perseguições nesta época. Seres humanos sem
direitos, sem liberdade e sendo terrivelmente explorados e censurados
quando á sua liberdade de consciência. A Igreja se afastava da sã
doutrina e colocava em seu lugar um falso poder, uma autoridade mágica
passa longe dos princípios eternos das Sagradas Escrituras.
Este
poder era totalmente falso porque, nas Escrituras, o poder da igreja
vem de Cristo e é subordinado à sua autoridade (Mt 28.18). Este poder,
de modo algum, pode ser exercido com tirania, mas sim de acordo com a
Palavra de Deus e sob a direção do Espírito Santo.
3 – A Falsa Santidade da Igreja
Nas
últimas décadas antes da reforma de Martinho Lutero e do Renascimento
houve uma aberta demonstração da imoralidade entre os lideres da Igreja.
Aqueles que se diziam ocupar o lugar de Deus na terra mergulharam de
uma vez por todas na corrupção e na prostituição. Houve quem comparasse
os papas desta época aos terríveis imperadores romanos que viveram
próximos ao inicio da era cristã e foram reconhecidos pela sensualidade e
imoralidade.
Corrompido
dessa forma, o poder foi usado para favorecer os oficiais da Igreja e
seus parentes. Papas nomeavam sobrinhos e familiares próximos, alguns
deles na idade de adolescência, para assumirem bispados e arcebispados
por todo o império. Ser líder da Igreja era um grande negocio. Schaff
fala um pouco mais sobre a moralidade do clero naquele tempo: “Os
cardeais que residiam em Roma não procuravam resguardar as amantes das
vistas do público. A paixão do jogo os envolvia na perda e no ganho de
somas enormes, em uma só noitada. Os papas assistiam a sujas comédias,
representadas no Vaticano. Seus filhos se casavam nas próprias câmaras
do Vaticano e os cardeais se misturavam às senhoras que acorriam, como
convidadas, às brilhantes diversões que os papas arranjavam” [5].
4 – Uma Igreja Enfraquecida
Todos
esses atos de dominação, corrupção e imoralidade acabaram enfraquecendo
a igreja. O papa acabou perdendo o respeito e o prestigio das ordens
leigas da igreja que estavam submetidas a ele. Em 1309 o centro ou sede
da Igreja deixou Roma para se estabelecer em Avignon na França. Durante
68 anos a Cúpula da Igreja foi francesa. Depois, com Gregório XI, a
Igreja voltou a Roma. Mas alguns cardeais franceses não se conformaram
com a sede do papado em Roma e elegeram um papa para si, que governou a
Igreja novamente de Avignon.
Este
foi um período da historia que contou com a existência de dois papas.
Um em Roma, Clemente VII e outro em Avignon, Urbano VI, na França. Ambos
se diziam sucessores do apostolo Pedro. De acordo com o historiador
E.E.Cairns, o norte da Itália, grande parte da Germânia (Alemanha), a
Escandinávia e a Inglaterra seguiram o papa romano. França, Espanha,
Escócia e sul da Itália seguiram o para francês. Esta divisão continuou
até o século seguinte [6].
Esse
poder dividido contribuiu para o desgaste daquela autoridade pretendida
pela Igreja Romana. Com o declínio da autoridade, a Influencia da
Igreja no mundo começa a diminuir. Começam a surgir as cidades-estados
que se opõem contra a pretensa soberania mundial do papa. As nações
começaram a se seara do Santo império Romano e passaram a ser comandadas
por um rei, que com seu exercito, protegia seus súditos contra a
exploração da Igreja. A Inglaterra e a Boemia foram as primeiras regiões
da Europa a se manifestarem contra o domínio papal. Surgiram a partir
de então movimentos internos que clamavam por reforma. Dentre esse
destacamos os personagens de John Wycliff, na Inglaterra e Jonh Huss na
Boêmia.
Esses
acontecimentos sucessivos demonstram a presença de Deus na história,
abrindo espaço para Reforma de Martinho Lutero, João Calvino e Ulrich
Zwinglio. O caminho para renascimento das artes, da ciência e da
religião começa a ser trilhado.
Conclusão
Os
dois últimos séculos antes da Reforma formaram um verdadeiro período de
trevas. Deus, então, preparou homens e mulheres para uma grande
transformação de proporções mundiais, cujos efeitos chegam até nós hoje.
Tanta imoralidade e perversão acabaram por
propiciar a entrada deste novo movimento. O mundo necessitava de Deus,
da sua Palavra e de uma transformação que abrangesse não só a sua vida
espiritual, mas também a restauração da dignidade humana. Tudo isso veio
com a Reforma do século 16.
Hoje
o homem continua necessitando de Deus. É o momento de avaliarmos a
missão da Igreja de Cristo e começarmos a produzir frutos que promovam a
glória de Deus e resgatem a dignidade humana que está mergulhada no
pecado, na corrupção e na violência do mundo atual.
Aplicação
De acordo com [esta lição], que paralelos você vê entre os séculos 14 e 15 e os de nossos dias?
Nota
[1] - D.S.SCHAFF Nossa Crença e a de nossos Pais São Paulo: Imprensa Metodista, 1964. P.48.
[2] – Timothy GEORGE Teologia dos Reformadores São Paulo: Vida Nova, 1994. P.35
[3] – Nossa Crença e a de Nossos Pais, p. 49.
[4] – Teologia dos Reformadores, p. 35.
[5] – Nossa Crença e a de Nossos Pais, pp. 58-59.
[6] – E.E.CAIRNS O Cristianismo Através dos Séculos São Paulo: Vida Nova, 1992. P.201.
Autor: Dráusio Piratininga Gonçalves
Fonte: Revista Palavra Viva, lição 01, pg 2-4, Editora Cultura Cristã.
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